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Como o cérebro reage quando meditamos.

Atualizado: 31 de jul. de 2021

Algumas escrituras indianas sugerem que a forma de meditação mais próxima da que conhecemos atualmente, surgiu há cerca de 3 mil anos a.C.. Apesar dos diferentes métodos utilizados, o objetivo da meditação era um: entrar em contacto com a essência e evoluir. De facto, o nosso cérebro reage – e por sinal, muito bem – às práticas meditativas.


Vamos regressar rapidamente às aulas de Biologia:


Existe uma ponte entre a nossa mente e o nosso corpo chamada “sistema nervoso”: nele, podemos distinguir o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático.


Quando vivemos no chamado ‘piloto automático’ (e temos a sensação recorrente de ansiedade, medo, fragilidade e irritação), a nossa produção de cortisol fica nos píncaros, o que significa que o nosso sistema nervoso simpático está ativado (ele está relacionado com a nossa época primitiva, na qual a nossa única preocupação era sobreviver, procurar comida e fugir de predadores).


Acontece que, apesar das maravilhosas transformações evolutivas da história humana, o nosso cérebro ainda não consegue entender que um stress no trabalho (ou uma discussão no trânsito) não é uma verdadeira ameaça à nossa existência.



Como ele não distingue estas situações dos verdadeiros riscos (de vida), sentimo-nos em ‘estado de ameaça’ e despoletamos uma série de mecanismos, maioritariamente fisiológicos, de alerta: ruminamos pensamentos, ficamos tensos, os nossos batimentos cardíacos descompassam, a nossa respiração acelera e centra-se na parte superior da caixa torácica…e entramos em estado de desequilíbrio, desencadeando um processo emocional que nos restringe a visão, que não nos permite ver o todo, nem relaxar, nem tomar decisões mais acertadas.


A meditação ajuda-nos – com o apoio da respiração consciente – a equilibrar novamente estes processos, transmitindo ao nosso corpo a mensagem de que “ESTÁ TUDO BEM!” para que comece, naturalmente, a produzir oxitiocina, beta-endorfina e acetilcolina que tornam mais lentas as ondas cerebrais e desaceleram os batimentos cardíacos (diminuindo o cortisol!).


Através da meditação conseguimos mudar quimicamente a produção do tipo de hormonas que estão relacionadas com as nossas emoções.



Nos anos 60, Hebert Benson, professor da Universidade de Harvard, descobriu que pessoas em estado meditativo usavam menos cerca de 17% de oxigénio (o que interfere diretamente com o nosso metabolismo); além disso, apresentavam menor pressão sanguínea e uma mudança na produção de ondas cerebrais (relacionando-se, também, com a qualidade do sono).


Outros estudos demonstram que a meditação pode ativar certas áreas cerebrais (como as relacionadas com o bem-estar) e interfere de forma positiva e transformadora, não só no comportamento humano (reduzindo o stress), como também no sistema funcional do cérebro (a plasticidade do cérebro permite-lhe, por estímulo, desenvolver novas conexões neurais; a meditação, é um desses estímulos).


Um outro grupo de neurocientistas de Harvard, reuniu-se para estudar os benefícios da meditação na atenção plena. Nesta experiência, foi possível perceber que áreas do cérebro são afetadas durante a meditação:


Lobo frontal Esta é a parte mais evoluída do cérebro, responsável pelo raciocínio, pelo planeamento, pelas emoções e pela ‘autoconsciência’. Durante a meditação, o córtex frontal tende a ficar desligado. [desacelera]


Lobo parietal Esta parte do cérebro é responsável pelo processamento de informações sensoriais, orientando-nos no tempo e no espaço. O exercício da meditação faz com que a atividade nesta área acalme. [ambígua]


Tálamo Este órgão concentra a nossa atenção, afunilando alguns dados sensoriais mais profundamente no cérebro e parando outros, nesse caminho. A meditação reduz o fluxo desta informação. [clarifica]


Formação reticular Esta estrutura é uma espécie de sentinela do cérebro, recebendo os estímulos de entrada e colocando o cérebro em alerta, pronto para responder. A meditação controla e diminui este estado de vigilância permanente, potenciando o relaxamento pleno. [relaxa]


O mesmo estudo revelou ainda – através das ressonâncias magnéticas obtidas no processo – uma matéria cinzenta mais densa (nos praticantes de meditação) em regiões específicas como o hipocampo, que é crucial para a aprendizagem e a memória, bem como em outras áreas associadas à autoconsciência, compaixão e reflexão.



Para além destes, outros estudos mostram que a meditação também auxilia na diminuição da ansiedade ou depressão, melhora a atenção, a saúde física geral e a qualidade das relações familiares e profissionais.


Há transformações físicas e emocionais evidentes trazidas por esta experiência.

De facto, quando começamos a compreender que muitos dos problemas das nossas relações interpessoais (e da relação que temos connosco próprios) não têm obrigatoriamente a ver com circunstâncias externas mas, muitas vezes, com a falta de intencionalidade dos nossos comportamentos, podemos também imaginar o quão diferente o nosso mundo poderá ser se mais pessoas começarem a praticar meditação com regularidade.


Acredito que esta prática será capaz de promover o aumento de uma consciência global plena, da felicidade geral, do autocuidado e da empatia pelos outros. Creio que é justo dizer que a disseminação da prática da meditação poderá criar realidades mais próximas, mais pacíficas, realizadas, motivadas (e motivadoras) e essencialmente mais felizes.

Meditar é algo completamente natural para o nosso corpo (e importante para o nosso cérebro!): se conseguirmos uma prática correta e constante, a tendência é que o organismo faça uma espécie de autocura, em todos os sentidos.


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