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Como superar o medo de enfrentar coisas novas.

Atualizado: 31 de jul. de 2021

Alguém já viu um pássaro voar com o ninho às costas? Aposto que não. Na verdade, só nós é que o fazemos (os caracóis não contam…): queremos ir para todas as situações novas com as certezas e respostas que é suposto encontrarmos só depois de estarmos nelas.

Onde um animal não parece encontrar dificuldades para avançar em direção ao que deseja, o ser humano (um animal com a mania que não o é…), a cada passo e em cada direção, vê um ‘problema’, uma ‘dificuldade’, um ‘constrangimento’ e um saco de ‘desculpas’.


Todos, de um modo geral, já experimentaram essa sensação de insegurança perante o ‘desconhecido’ ou quando um novo ciclo se inicia. A falta de referências e a ausência de métricas de análise comparativa, deixam-nos sem fôlego e sem ‘rede’ (que sorte que, se formos parar ao chão, é precisamente ele que nos ajudará a levantar, right?…adiante).

Retiradas a ferros da minha própria experiência, aqui seguem 5 dicas para que possamos apoiar-nos quando mais precisamos de nós!



1. Ninguém está a prestar-te assim tanta atenção…


A tendência que temos para sentir que estamos a ser constantemente julgados pelos outros (particularmente numa situação nova em que não estamos tão à vontade), é descrita por Thomas Gilovich, Victoria Medvec e Kenneth Savitsky, como o “efeito holofote”, através do qual superestimamos o impacto das nossas ações.


A verdade é que está comprovado que as pessoas se preocupam menos com a nossa performance do que pensamos.


Este exagero do “ego” não vem necessariamente de uma atitude narcisista, mas acontece porque observamos o mundo pelo nosso próprio ponto de vista (e ainda que isto possa parecer uma estupidez, temos a tendência de achar que os outros fazem o mesmo, interpretando a realidade pela NOSSA perspetiva). Então, é importante conseguirmos retirar-nos mais vezes da equação para que o medo do julgamento do outro não nos impeça de arriscar. E mais: é fundamental estarmos focados – estarmos ‘connosco’ – presentes no agora (mais do que com pensamentos de ameaça eminente) para que saibamos adaptar-nos mais facilmente às novas circunstâncias e perceber que competências podemos aplicar e que capacidades precisamos desenvolver.

2. A sorte não protege só os audazes.


A comparação e a insegurança levam-nos a crer que há sempre umas quantas gotas de sorte no copo dos mais corajosos e capazes (e que esses não somos – definitivamente – nós…).


A verdade é que eles só têm mais chances porque, com mais ou menos receio, seguem – igualmente – em frente.


A ‘sorte’ dá trabalho – a medrosos e audazes – portanto, a construção das oportunidades tem muito mais a ver com a capacidade de sairmos com mais frequência (e mais tranquilidade e confiança) da nossa ‘zona de conforto’ do que com a possibilidade de permanecermos nela.


Quanto mais formos capazes de aceitar pequenos desafios, mais nos habituaremos a grandes confrontos com o ‘desconhecido’. Estes exercícios fazem-nos sentir cada vez mais à vontade com o ‘desconfortável’ (alargando a nossa zona de conforto), possibilitando o resgate de recursos emocionais fortes para situações que nos exigem essa atitude.

Para além disso, se nos sentimos de alguma forma intimidados com alguma tarefa ou situação, devemos preparar-nos com antecedência. Segundo Keith Rollag, ensaiar (e visualizarmo-nos a encarar a situação com sucesso) faz com que tenhamos a sensação de que já completamos 50% da atividade (reduzindo a ansiedade e melhorando a nossa confiança e bem-estar em relação ao desafio em causa).



3. A vulnerabilidade não é confortável, é necessária.


Bem sei que os (re)começos não são tão fáceis quanto gostaríamos. Segundo Rollag, esses receios estão relacionados com a nossa ancestralidade. Em ambientes mais austeros (como na época em que éramos caçadores-recoletores), a nossa performance podia ter impacto no nosso estatuto e na habilidade de conseguirmos os recursos – de sobrevivência – necessários.


Quando conhecemos pessoas ou grupos pela primeira vez, por exemplo, podemos sentir-nos ansiosos com a perspetiva de sermos ‘a pessoa nova’, receando os primeiros julgamentos. Quando os outros não nos conhecem, podemos passar-lhes ideias que não queremos e isso dificultar a nossa integração, certo? O facto dos outros poderem reconhecer algumas das nossas vulnerabilidades, deixa-nos expostos e profundamente desconfortáveis com a possibilidade de não sermos aceites.


Quando se sentirem deste modo, lembrem-se de que todos, em algum momento, já passaram por isso e que este não é um medo individual, mas de TODA a espécie.

O grande valor de estarmos completamente expostos, é que isso também significa que não temos nada a esconder (permitindo-nos criar vínculos mais profundos, connosco e com os outros). Sem nos sentirmos vulneráveis, não nos sentiremos impelidos a reagir e a fazermos mais e melhor (e sem ação não se vencem obstáculos, right?…).

4. O segredo está na respiração consciente.


Podemos passar dias sem comer, (menos) dias sem beber água, mas não conseguimos ficar mais de 3 ou 4 minutos sem respirar.


A natureza foi sábia o suficiente para colocar ao lado do órgão mais quente (o coração), o órgão mais frio (os pulmões, que estão em contacto com o exterior através das narinas e da traqueia). O segundo é efetivamente capaz de acalmar o primeiro: se inspiramos, o coração acelera; se expiramos, acalma-se.


Precisamos compreender que, quando estamos em situações de maior stress ou ansiedade, respiramos mal. Na maioria das vezes a respiração torna-se superficial, concentrando-se na parte alta da caixa torácica, provocando a sensação de tontura ou de ainda mais ansiedade.

Quando dizemos: “quase desmaiei, mas controlei-me”, isso não é verdade. Ninguém controla um desmaio. Mas a respiração, sim. Quando a respiração está rápida demais (mudando a química do sangue e provocando esse mal-estar)…precisamos respirar conscientemente.


A fisiologia pode mudar os estados emocionais e a respiração é também uma forma muito eficaz de resgatar o autocontrolo.



5. Quebra de padrões…e o desafio como uma oportunidade.


À medida que os padrões mentais de medo se vão instalando (confortavelmente) em nós, vão sendo criadas fantasias negativas, que o cérebro interpreta como perigosas (e verdadeiras!), tão fortes como ‘leões imaginários’, prestes a abocanhar-nos pelo pescoço.

No livro “A Arte de Falar em Público”, o professor Stephan Lucas diz que a melhor forma de vencer o nervosismo negativo é estimulando pensamentos e imagens mentais positivas, sendo que para cada pensamento negativo, são necessários cinco positivos (isto explica por que é que precisamos de mais esforço para estarmos bem do que mal…).


Para superarmos conflitos internos ou emoções perturbadoras, precisamos mudar o nosso discurso interior: conversar com a mente e não se deixar apegar às ideias de medo. Agradecer-lhes pelo efeito protetor que têm, mas pedir-lhes permissão para agir imediatamente pelo seu caminho oposto (sim, oposto).


Encarar a situação como uma oportunidade, muda o padrão de ameaça e prepara um mindset muito mais pró-ativo e comprometido com o autossuporte.


Assim: colocarmo-nos em perspetiva (saindo principalmente da nossa); confiarmos nas nossas próprias capacidades e recursos internos; não temermos e aceitarmos a nossa própria vulnerabilidade; e estarmos presentes, através de uma respiração consciente e de diálogos internos positivos e motivadores, são alguns dos pressupostos que nos apoiam quando precisamos confrontar-nos com situações novas. Creio que o desafio será saber dominá-los, no confronto com a vida, no contacto com os outros e, principalmente, na relação connosco próprios.


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