No final de 2018 quando tudo estava a correr aparentemente bem (estava a fazer o que gostava, a viver uma relação tranquila, tinha objetivos definidos para o novo ano e a minha vida social estava em dia…) comecei a acordar com uma sensação média de tristeza e desorientação. Coisa sem ‘razão aparente’. No começo achei que fosse apenas cansaço. Depois, a desorientação começou a incomodar-me a ponto de rapidamente se transformar numa confusão profunda e paralisante. Sabes quando parece que já não és mais o mesmo, que as ideias estão desorganizadas, que o tempo não rende para nada, que deixas de conseguir sentir-te útil, que achas que a vida perdeu o sentido e que o teu corpo nem parece mais teu? Foi isso que senti. Ficou tudo meio que ‘fora de lugar’ e eu com medo de sentir aquele desconforto por tempo indeterminado (quem conhece as próprias crises sabe que, às vezes é uma questão de dias…mas, nem sempre). Então, fui-me enrolando toda em pensamentos cada vez mais quadrados (aqueles em que queremos que as coisas sejam como nós achamos que devem ser e em que temos a tendência para catastrofizar). Como já ando nisto (de me autopercecionar) há alguns anos, achei que talvez esta sensação se devesse ao facto de estar a propor-me fazer várias coisas novas (como aquele medo que vem quando saímos da nossa zona de conforto). Mas, quando comecei a olhar para trás e observei como tinham sido os meus dias anteriores, a coisa tornou-se um pouquinho mais óbvia. Não era medo. Era desconexão.

Quantas vezes este sentimento de confusão, desinteresse ou vazio nos acontece e, mesmo assim, demoramos para perceber o que é? Volto a dizer: é desconexão. Eu sei que pode soar estranho, mas com tantos estímulos e tanto sentido de necessidade, obrigação e dever (do tipo “eu preciso de…”, “eu tenho que...”, “eu deveria tal coisa…”) vamo-nos deixando levar por tudo, menos por nós mesmos até que chega uma hora em que não conseguimos reconhecer-nos mais. Para te ajudar a identificar se isto te está a acontecer, listei abaixo alguns sinais que indicam que estás desconectado de ti mesmo:
Oscilas muito de humor
Uma das primeiras evidências de que estamos desconectados de nós mesmos são os picos de humor: quando temos momentos de euforia, sentimentos de amor e pensamentos elevados e, no momento seguinte, vivemos sentimentos de frustração, irritabilidade, sofrimento (seguidos de uma série de pensamentos negativos que reforçam o estado). Acordas bem e daqui a cinco minutos estás a reclamar da vida, a ter uma crise de choro e logo de seguida um ataque de riso. Quando ‘perdemos’ o nosso centro, ‘perdemos’ o nosso barómetro do equilíbrio e, por isso, vivemos apenas nos extremos: passamos rapidamente da raiva para a tristeza e vice-versa; passamos de querer estar isolados para precisarmos de estar sempre com pessoas; da certeza para o profundo vazio. Quando oscilamos muito de humor significa também que o ambiente externo está a influencia-nos muito mais.
Ficas acelerado
Estar acelerado é estar desconectado do momento presente. E quando saímos do momento presente, começamos a acelerar o ritmo natural da vida e a entrar no loop de ‘muitos pensamentos ao mesmo tempo’. Começamos a desejar que as coisas aconteçam mais rápido. E a acreditar que não vai dar tempo de fazer tudo o que queremos. E que vamos perder oportunidades. E que não podemos parar. E que não vamos dar conta. E que tudo vai dar errado. Entendes o ciclo? O nosso ritmo interno fica tão acelerado, que impacta todas as nossas ações e acabamos sempre com a sensação de que precisamos fazer mais. E mais. E mais. Esta aceleração traz uma enorme ansiedade. E a ansiedade é também ela gerada pela falta de presença.
Começas a incomodar-te com tudo (e a desentender-te mais com as pessoas)
O barulho na sala ao lado ou o simples facto de alguém estar a mastigar chiclete. A tua amiga que te conta como se sente apaixonada, o humor do teu chefe e a energia dos teus filhos. Tudo te tira do sério. Quando começamos a sentir-nos incomodados, impacientes ou intolerantes em relação aos outros, começamos a sentir igualmente dificuldade de praticar empatia (colocarmo-nos no lugar do outro), sendo que tudo que não está de acordo com o que pensamos, sentimos ou fazemos…irrriiiiiiiita-nos.
Quando nos desconectamos, entendemos menos o outro (e isso é só um reflexo porque, na verdade, não conseguimos entender-nos a nós mesmos!). A comunicação fica menos clara, começas a agir com base em suposições e acabas por te desentender devido a más interpretações, falta de perspetiva ou, pior, por projetares as tuas emoções e sentimentos nos outros (do género: ‘toma lá, lida tu com isto…’). Quanto mais te desentendes com as outras pessoas, menos conectado estás.

Percebes menos os sinais da vida (e a tua intuição falha)
O Universo está sempre a dar-nos sinais (querendo colocar-nos em situações que devemos vivenciar; querendo conectar-nos com outras pessoas; dando-nos dicas de coisas às quais precisamos prestar atenção) e vai direcionando-nos em função até da vibração que emanamos (não vou usar muito tempo a explicar o fenómeno mas, caso tenhas interesse, busca informação sobre as 12 Leis Universais). O Universo dá-nos opções e o coração diz-nos para onde devemos ir. E quando se está desconectado, esses sinais passam despercebidos, ficam totalmente deturpados ou confusos.
Não. Os sinais do Universo não acontecem de vez em quando. Acontecem a todo o momento. Em praticamente todas as interações. Basta observarmos com atenção, confiarmos nesses sinais e segui-los (não sobrepondo a vontade do ego que às vezes acha que só é uma oportunidade aquilo que acontece do jeito que ele programou!). As sincronicidades são as ferramentas do Universo para te moveres na direção daquilo que precisas fazer. Então: quantas sincronicidades percebeste nos últimos dias, na tua vida? Lembra-te que a intuição é o principal guia do coração e que é este (e não a mente racional) que deve ajudar-nos a fazer escolhas. O problema é que quando estamos desconectados, a mente racional fica muito mais forte, right? Mas quanto mais alto fala a mente racional, mais difícil fica de escutar o coração (e então caímos no erro de achar que estamos a seguir a intuição mas, na verdade, estamos apenas seguir a voz da mente).
A tua saúde piora
É muito comum, quando estamos desconectados, termos vontade de nos alimentarmos pior: queremos comer alimentos mais densos, comidas gordurosas e muito açúcar. Não temos vontade de fazer exercícios, dormimos mal ou muito menos. Temos menos disposição, a energia fica dispersa e esgota-se facilmente. Sentimo-nos mais cansados e com menos vitalidade.
Talvez este seja um dos indicadores mais óbvios, mas nem assim lhe prestamos atenção. Somente quando esses sinais começam a ficar extremamente evidentes (quando ficamos doentes, quando a pele muda, quando os órgãos parecem não funcionar tão bem) é que, normalmente, percebemos o corpo a gritar. Somos um sistema e a falta de cuidado e presença em relação ao nosso corpo (e por consequência em relação à nossa saúde) é também ela uma forma de desconexão.

A vida fica em desordem
Quando me desconecto, por norma, as minhas rotinas ficam uma grande mess: acumulo mensagens não lidas, roupa por arrumar, emails não respondidos, pastas desorganizadas, invento desculpas para não fazer exercício, para não lavar a loiça ou para não resolver certos assuntos que considero…chatos. Até as minhas plantinhas sofrem.
Se sentes que nada faz sentido (não importa para onde olhes, com quem fales ou o que tentes fazer, parece que a vida já não te pertence!) estás – com certeza – no meio do teu próprio caos. Quando a mente está uma confusão, o ambiente externo tende a ficar uma confusão.
A vida precisa de ordem. A ordem traz clareza. E a clareza faz a energia fluir (e tu sentes-te conectado de novo).
Sentes falta de ti mesmo
Se os teus hobbies favoritos já não te animam como dantes, fica atento. Pode ser apenas um sinal de mudança natural mas, se for repentino ou parecer estranho para ti, provavelmente é um sinal de desconexão. Quando estamos longe de nós mesmos, os nossos desejos e vocações mais íntimas ficam retraídas. E é aí que começas a sentir saudades de momentos: no início, começas a pensar que é saudade de um local, de algumas pessoas ou de determinadas atividades que não fazes mais. No entanto, a falta que sentes é, na verdade, de ti mesmo. Sentes falta de serem quem és.
'Ok Márcia, já entendi que estou realmente desconectado. O que devo fazer em relação a isso?'
Malta, mudem o que há para mudar. Decidam como se querem sentir. Este é sempre o ponto de partida. Depois, reconheçam que experiências vos ajudam a sentir como se querem sentir. Estejam mais conscientes do momento presente (sem estarem propriamente a julgá-lo permanentemente). Pratiquem a ‘desaceleração’ consciente dos pensamentos. Façam coisas boas por alguém. Comprometam-se com atividades que vos entusiasmem. E no meio disto, estejam atentos aos sinais do Universo.
É uma escolha. Diária. E individual.
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